Há uma expressão no mundo da política
que diz ser necessário dividir pra governar. A noção aplicada desde a antiguidade
emergiu com força no imperialismo do século XIX. O objetivo seria criar cismas
que enfraqueceriam os governantes e instituições locais, lançando em conflito
entre si os diversos grupos sociais. Em diferentes épocas, essa foi uma lógica
muito comum nas experiências imperiais.
Lembrei-me dessa frase quando ontem vi
uma propaganda na página do Facebook do golpista/conspirador Michel Temer que
dizia “falta pouco para unir o Brasil e fazer um governo sem rancor e sem ódio”.
Em uma provocação na mesma rede social, fizeram um meme que completava: “sem
rancor, sem ódio, sem votos, sem legitimidade, sem vergonha”. Apesar da
brincadeira, acho difícil que uma união aconteça. Afinal, está claro para pelo
menos 54 milhões de pessoas que isso foi um golpe, que se blindou da capa da
legalidade para rasgar a constituição.
Talvez os golpistas estejam alucinando,
mas é estranho falar em união quando só um lado é ouvido. Uma das frases mais
empregadas na votação do dia 17/04 e já esteve na boca de muitos senadores que
disseram votar a favor do impeachment é que é “necessário ouvir a voz das ruas”.
Essa afirmação me deixa confuso e pergunto: que rua? Aquela das manifestações
do pato e da rede globo ou daqueles a favor da democracia e contra o golpe?
Só vale se se vestir de verde-amarelo
com a camiseta da mais que corrupta CBF? O interessante é acompanhar as
manchetes: de um lado estava o povo na rua, de outro os apoiadores do governo.
Uma construção que busca indicar que aquelas manifestações que se levantaram em
todos os Estados do país em favor da democracia não eram povo. A união e
harmonia só é possível quando um lado é totalmente ignorado. Os golpistas
parecem escutar apenas um lado, aquele que o interessa.
Talvez essa harmonia e união venha da
imprensa que forjará um falso consenso. Já é perceptível uma mudança nas capas
da Veja. Não possuem mais aquele teor escatológico de antes. Talvez acreditem
que a consumação do golpe e um governo não-petista seja o mesmo que o fim do
caos. Talvez a união tão pregada pelos golpistas seja a ordem igualizadora, que
apaga qualquer diversidade. Pessoas com deficiência, negros, mulheres, índios,
trabalhadores etc serão apagadas sob o ideal de uma igualdade opressora que
ignora as desigualdades sociais.
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