No final do ano passado, a criação do Dia da Mulher Cristã evangélica em São Paulo causou espanto a muitos. O projeto do deputado estadual
Adilson Rossi (PSB) e sancionado pelo governador Geraldo Alckmin pareceu um
absurdo; um contrassenso contra tudo o que está em pauta atualmente na luta da
mulher por mais igualdade e melhores oportunidades. Além disso, por sua
exagerada especificidade, era algo totalmente excludente: Por que não fazer
então um Dia das Mulheres intolerantes a lactose? Ou um dia das mulheres
ruivas? Ou um dia das mulheres praticantes de candomblé?
Certamente o dia 8 de Março, ao se apoiar em uma categoria
mais ampla (mulher), agrega todas elas, seja qual for sua particularidade. No
entanto, essa notícia, que por parecer dissonante à época e dada como pouco
importante, é, ao contrário, um dos fatos mais relevantes da atual conjuntura.
Tão importante que pode ser um elemento chave para eleição de 2018.
No fundo, o que está em jogo é a colonização do espaço
público por interesses privados. Do golpe à eleição americana, 2016 foi um
marco para isso e pautou a política eleitoral e parlamentar. É só ver a votação
do Impeachment na Câmara dos Deputados em que supostos representantes do povo
diziam votar por membros de sua família. Ou, então, podemos pensar nas eleições
municipais em que religiosos ou “gestores” assumidamente privatistas venceram
eleições contra candidatos com projetos e engajamentos com os interesses
públicos.
É esse o caminho da política atualmente. O mundo caminha em
direção ao espaço privado. E a constante afirmação do espaço público como um
espaço caótico e ameaçador colaboram ainda mais para o medo, posturas violentas
e a proteção das certezas domésticas. O voto balizado pela classe social parece
ter sido colocado de lado, não é mais uma suposição válida que pessoas com uma
renda mais baixa votem em partidos de esquerda, preocupados com políticas
sociais e com a diminuição das desigualdades. Ao contrário, é a religião que
parece ter assumido esse papel e não pode ser ignorada. O voto com o interesse
público é substituído pela estabilidade da manutenção dos meus compromissos
privados. Sob essa perspectiva, a criação de um Dia da Mulher Cristã Evangélica
é ponto que precisa ser pensado para além da mera escolha confessional.
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