domingo, 20 de março de 2016

QUERO O MEU PAÍS DE VOLTA!


Um dos argumentos defendidos pelos manifestantes vestidos de verde amarelo do dia 13 de março é de recuperar aquele país que lhe havia sido tomado. O motivo é justo, afinal originalmente a própria concepção de “revolução”, até aproximadamente o século XVIII, significava um retorno ao ponto inicial. Na medicina, como na política, um corpo doente, fosse ele o natural ou o estatal, seria restaurado com o equilíbrio de seus humores, o combate das partes facciosas e o retorno da ordem antiga, em que cada um sabia exatamente o seu lugar no mundo.

No entanto, há de se perguntar: que país é esse que querem de volta? Na última década, o Brasil saiu do mapa da fome, diminuiu a desigualdade social, investiu pesado em educação (novas universidades, cursos técnicos, bolsas e financiamentos no ensino superior, programas de intercâmbio internacional), foi palco de grandes eventos, como uma Copa do Mundo e as Olimpíadas (isso para ficar só nos esportivos), se tornou uma das mais importantes economias do mundo. Dessa forma, seria injusto dizer que alguém defende a volta da fome, da desigualdade, da baixa relevância econômica etc. Para mim, seria no mínimo, uma falta de caráter. Apesar que uns defendem Bolsonaro e o retorno da Ditadura - então, vai saber.

Um dos argumentos empunhados pelos manifestantes do 13 de março é o combate à corrupção e o necessário investimento em saúde e educação. Assim, me parece um pouco irracional se levantar contra os governos e o presidente que mais atuou nessas áreas. Desta forma, vamos deixar claro: o problema de fato não é a corrupção, mas o projeto político que ela sustenta. A seletividade da mídia, do judiciário, do mundo político, de empresários e de alguns cidadãos com as corrupções de alguns e não de outros revela isso. Vivemos em uma época em que falsos moralistas vêm a público e que corruptos se unem sob a bandeira de lutar contra a corrupção.

Se não seria justo dizer que aqueles vestidos com a camiseta da CBF (diga-se de passagem, uma das instituições mais corruptas de nosso país) desejam a volta da fome, da pobreza, da desigualdade (afinal isso seria um discurso que moralmente não cairia bem caso viesse a público), resta ainda a dúvida: o que querem então? Sonham com aquele país em que tinham poder e privilégios, o monopólio do conhecimento e dos espaços (acadêmicos, geográficos, sociais, econômicos etc). Em que o aeroporto não parecia uma rodoviária, em que uma viagem internacional ou um curso superior era símbolo de distinção. Como disse Danuza Leão em sua coluna na Folha: “Ir a Nova York já teve sua graça, mas, agora, o porteiro do prédio também pode ir, então qual a graça?"

Desta forma, o que está em jogo, de fato, é o papel que o Estado deve desempenhar. “Essa gente” acredita no valor individual como elemento de distinção, seja devido à herança, poder aquisitivo, posição profissional ou grau acadêmico. Exaltam esforços individuais como exemplos de superação, ignorando todos os mecanismo de poder e exclusão existentes. Nas manifestações, tiram fotos com pobres ou gravam vídeos com negros (quase objetos de exceção, raridades em exposição) para mostrar que ali não está presente somente a “elite branca”. Na internet ironizam o pão com mortadela recebido pelos militantes, sem se questionar do filé mignon dado pela FIESP. Criticam aqueles que chegaram de ônibus fretado por instituições e sindicatos, sem pensar que em São Paulo o governo (PSDB) liberou as catracas do metrô. Se fosse um governo do PT facilmente seriam levantadas as acusações de aparelhamento e utilização da máquina estatal para fins privados.

Assim, veem a atuação do Estado para consertar qualquer desigualdade (Bolsa família, cotas, programas habitacionais) como esmola, algo avesso ao esforço individual. Para alguns privilegiados, os últimos 12 anos representam o declínio da distinção, dos privilégios e do monopólio de bens e do conhecimento. Agora, viagens e equipamentos não são mais exclusividade dos endinheirados ou a palavra do “senhor” atestado de verdade. Não é mais o único detentor do acesso à instrução. Nem a Rede Globo é a única fonte de informação, seu jornalismo atua contra os interesses nacionais (por isso sua atuação tão feroz contra o governo e em benefício do Golpe).

A volta desse país desejado representa o retorno da hierarquia, de uma organização social baseada na dependência. Não desejam a autonomia da população, mas sua eterna vassalagem, em que a relação desigual imposta gere a gratidão e o compromisso do “inferior” com aquele percebido como “superior”, tanto política como economicamente. Querem a volta dos tempos dos coronéis e em que o Estado não impunha tantos encargos trabalhistas. Sonham com um tempo em que era mais fácil encontrar uma empregada doméstica, em que o empregado não saía do emprego porque achou condições melhores em outro local, mas que, apesar da exploração, via na atitude do patrão um ato de benevolência, e por isso assumia a docilidade. De verdade, é esse o país que querem de volta. E é esse país que 54 milhões de pessoas não estão dispostas a devolver.


Um comentário:

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