Apesar da resistência sofrida por essa
concepção, ninguém duvida de sua vitória. Mesmo que ainda fiquemos horrorizados
com uma política sem ética, hoje a ação política determinada por preceitos
morais e religiosos já não é tão desejada. Inclusive até preferimos que o
privado seja afastado do público, e que opiniões particulares fiquem distantes
dos assuntos sociais. Tem sempre um parlamentar querendo intervir no sexo, no
útero, na roupa, na educação alheia etc. e essa distinção entre âmbitos é o que,
na verdade, nos resguarda. No entanto, há um fator que deveria estar acima de
qualquer opção pessoal: o bem-comum.
Ao contrário, o que percebemos é a
atuação de grupos midiáticos, jurídicos, industriais, sociais etc, querendo
destruir conquistas políticas tardias, em nome de escusos interesses privados.
Não admira que aqueles que querem o Impeachment da presidenta, sejam justamente
aqueles mais denunciados por corrupção. Não é de se surpreender com as
estatísticas de que a maior parte dos que vestem verde-amarelo ganhem mais,
tenham nível superior, votaram no Aécio etc. Em resumo, são pessoas que veem
uma piora em suas condições de vida, isso, todavia, devido à melhora da vida
dos outros. Para esses que sempre tiveram privilégios, a busca por igualdade
significa opressão e um governo mais preocupado com as questões sociais só pode
parecer uma ditadura.
Em verdade, querem a destruição desse
projeto de Brasil a qualquer custo. Querem o fim das garantias trabalhistas, o
monopólio midiático, a privatização dos bens públicos, o silêncio das
diferenças, os privilégios, a distinção da massa da população e, por conta
dessa tal pretensa superioridade, a submissão. E nesse sentido: os fins
justificam os meios? Ao que parece, sim. Mas não de um governante que quer
sustentar seu Estado, ao contrário, de uma elite ávida por reconquistar o poder
perdido. Identificam a perda desse mundo com o PT, o ex-presidente Lula, a
presidenta Dilma, os movimentos sociais com a figura do mal e estão dispostas a
tudo para ter seu país de volta!
Não interessa a opinião dos outros. A
democracia só vale se minha opção prevaleça. As pessoas se admiram com a
presença e participação ativa da população nas manifestações do dia 18 e 31,
contra o golpe e a favor da democracia. Sim, gente, não sei se vocês sabem mas
a Dilma ganhou as eleições e há 54 milhões de pessoas dispostas a defender sua
escolha. Certamente, os golpistas acharam que seria mais fácil derrubar a
presidenta, para terminar as investigações e vender o Brasil. Para se atingir o
objetivo tudo seria permitido, até ignorar os meios.
Vivemos na exceção. Começando pela
perseguição voraz a um único partido e a ocultação de toda corrupção realizada
por outros. Para isso, não é necessário respeitar o comprometimento jornalístico,
a constituição, a ética médica, a opinião dos outros. Corruptos unidos prometem combater a
corrupção. Decreta-se a prisão preventiva ou a tal condução coercitiva antes
mesmo de uma séria investigação ou da pessoa ser notificada a depor. Afinal,
nestes casos, geralmente o acusado já foi determinado, agora só falta o crime,
mas esse é irrelevante.
Por esse pensamento, quem usa vermelho
não é patriota, mesmo que seja contra a desigualdade social e a favor do investimento
público. De verdade mesmo é a FIESP, que pede impeachment e colori seu prédio
de verde-amarelo, o fato dela defender a terceirização e o desmonte da CLT é só
um detalhe e favorece aquele Brasil pelo qual acredita valer a pena. A médica
que negou atendimento a uma mãe petista é louvada pelo presidente de seu
sindicato. A OAB protocola um pedido de impeachment tentando criminalizar absurdamente
ações legais. Ainda bem que ela é uma organização isenta, mesmo não sendo tão
rápida assim para pedir a cassação de Eduardo Cunha e ter apoiado o golpe de
1964.
Justiça? Já ouvi falar. Nesta ditadura
petista em que só petista é preso, a informação e a investigação é totalmente
parcial. Enquanto pedem a prisão preventiva de Lula, para orgasmo da elite e para
espetacularização da mídia, por um triplex e um sítio que nem é dele, Cunha e
sua família estão soltos. Mas cassá-lo ou prendê-lo pode atrapalhar o andamento
do processo de impeachment e inimigo do meu inimigo é meu amigo. Observam o
parecer de Gilmar Mendes como o ícone da justiça e da idoneidade. Quem não te
conhece que te compre. Por isso defendo a discussão política em termos de intenção, não de verdade. O bem público, o comportamento ético, justo e
comprometido não interessa, desde que os fins sejam obtidos. Mesmo que para
isso seja necessário espoliar a população, agir contra a constituição, levantar
a voz, usar de violência e ignorar a legitimidade das urnas, levando junto
todos pilares que sustentam nossa democracia.
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